sexta-feira, março 18, 2022

O FEMINISMO TEM QUE APAGAR A LUZ VERMELHA (Texto e Vídeos)

 Em primeiro lugar agradecimento enorme às companheiras de Vigo, por termos dado este espaço para escuitar e ser escuitadas. Em tempos de censura e política da cancelaçom, em redes sociais, médios convencionais, dentro da esquerda, e também dentro dos próprios movimentos sociais, é de agradecer que se abra umha janela para que se escuite o que estamos a debater e a contestar as feministas, umha vez apagada a lanterna que nos visibiliza cada 8 de março.

A atrocidade da guerra, oculta e semelha pôr em segundo plano qualquer outra questom. Assim devera ser, em todo caso, em resposta a todas as guerras que se estám a desenvolver no planeta. Agora, só semelha que exista umha guerra, a retransmitida, a que tem o foco mediático, a que interessa à geopolítica do bloco que nos influi por pertença. As feministas na Galiza berramos, quando a guerra do Afeganistam, “nem guerra que nos mate nem paz que nos oprima”, e berramos o mesmo quando a guerra de Iraque. Agora volvemos a dizer “nem guerra que nos mate nem paz que nos oprima” porque a guerra é o máximo exponente da cultura patriarcal, a cultura da violência como forma de relacionar-se entre os seres humanos, a cultura da destruçom frente a cultura da vida que é a cultura na que nos socializamos às mulheres, reprodutoras e mantedoras da vida. A cultura da paz, neste momento mais que nunca como a cultura de sobrevivência da humanidade.

Na guerra de Ucraína o patriarcado volve a fotografar-se tal como é. Mulheres com crianças, pessoas de idade e enfermas, fugindo da guerra; homens obrigados a ficar contra da sua vontade a tomar as armas, a fazerem-se violentos e assassinos; nas fronteiras máfias aguardando a nova mercadoria, mulheres e nenas vulneráveis para substituçom nos macroburdeis de Europa, Asia ou América; bebes comprados nas granjas de mulheres baixo contrato de explotaçom reprodutiva, sem direitos, entre outros o direito de filiaçom. O feminismo é o antídoto fronte às guerras, porque o feminismo luita polo fim do sistema patriarcal, esse sistema que se monstra tal qual o estamos vendo nas imagens de televisom estes dias.

Quando me convidarom a dar esta charla, falarom-me de desenvolver o tema da mercantilizaçom do corpo das mulheres. As análises mais conhecidas que se vinham fazendo desde o feminismo nas últimas décadas do século passado, monstravam a cousificaçom do corpo das mulheres sobre todo na publicidade e nos mandatos da moda. Denunciavamos como nos utilizavam como reclamo para vender um carro de alta gamma, um licor…, ou como para a moda eramos simples perchas onde colgar a imagem que desejavam ver os homens, nom importando o que isso de sofremento poidera ter para nós: roupas incómodas, corpinhos de tortura, tacons impossíveis… todo limitante e mesmo contraindicado para a nossa saúde. Mentres nos dedicávamos, com todas as nossas energias, a denunciar a violência machista, aparcavamos o debate da prostituiçom, era um tema que nos dividia. As abolicionistas, agora o sabemos, carecíamos do argumentário, das análises e investigaçons, que nos dessem a força necessária para enfrenta-lo.

Agora a palavra mercantilizaçom soa moi cativa em relaçom ao salto qualitativo que deu o patriarcado da mam do neoliberalismo. A realidade nos convida a utilizar palavras mais ajeitadas para defini-la. Podemos afirmar que o neo-liberalismo aplica um modelo extrativista a respeito dos corpos das mulheres e da sua capacidade reprodutiva. Como o extrativismo mineiro, agrário, gandeiro ou forestal, a extraçom da matéria prima vai-se fazer sem a penas respeito médio ambiental, no nosso caso, sem respeito à integridade e à consideraçom das mulheres como pessoas humanas com direitos. Como no extrativismo a materia prima vai-se extrair nos territórios onde exista menos regulaçom, menos garantias legais que protejam o território, mais pobreça, estados corruptos ou endividados, e umha cultura de conceptualizaçom patriarcal das mulheres fortemente enraizada. Como no extrativismo, a matéria prima vai-se exportar aos países mais desenvolvidos onde produzirá pingües benefícios para as industrias extrativas.

A industria criminal do sexo, a prostituiçom e a pornografia, junto com a incipiente industria dos ventres de alugueiro, som modelos extrativistas que funcionam pola simbiose patriarcal-capitalista, que reduzem às mulheres a mercadorias, infraseres sem direitos, para isso utilizam métodos violentos e de anulaçom.

O aumento exponencial da industria criminal do sexo vem acompanhado dum movimento extrativo de mulheres dos países mais pobres, em direçom aos países mais ricos. O consumo de corpos de mulheres associado ao ócio e aos negócios, impom a necessidade de renovar constantemente a mercadoria para manter a demanda, e satisfazer a um cliente que exige porque paga. Rocío Mora, da  Asociación para a Prevención, Reinserción e Atención à Mulher Prostituida "Apramp" di que no passado ano 2020, se registrou umha reduçom de mulheres de Brasil, e um incremento de colombianas, dominicanas, paraguaias e venezolanas. Em menor percentagem, também, cubanas, peruanas e uruguaias.

Esta industria, na sua maior parte ilegal,  tem o reto de converter-se em legal, para superar umha das suas maiores dificuldades, o branqueio de capitais que provenhem da explotaçom dos corpos de mulheres e crianças. O modelo regulacionista agora também chamado modelo de direitos, aponta nessa direcçom. Nom podemos deixar de nomear às instituiçons que promovem este extrativismo. O Banco Mundial, e o Fondo Monetário Internacional, com os seus planos de ajuste estrutural, proponhem empréstimos aos Estados com dívidas externas, para desenvolver empresas de turismo e entretimento, entenda-se turismo sexual e entretimento masculino.

O 40% dos homens do estado espanhol som puteros. Som homens que compartem a ideia de que podem aceder ao corpo das mulheres sem que elas os desejem, ainda que estejam baixo os efeitos do álcool e as drogas; sejam ou nom vitimas de trata; que estejam nessa situaçom por pobreza e desamparo; se forom captadas em situaçom de vulnerabilidade... Situaçons como da que se aproveitam nestes momentos as redes proxenetas na fronteira polaca.

Os puteros som homens que assumem a deshumanizaçom das mulheres, naturaliçam a violência e assumem o que é, abuso, violência e domínio, como um direito de consumidor. O direito a que, sem desejo, só com consentimento nom provado, mas pagado com um bilhete,  penetra-las pola vagina, polo ano, pola boca; o direito a que lhes chupem o pene, o ano; o direito a acceder ao corpo dumha mulher em grupo, em manada, o chamado "bautismo"; o dereito a orinar, defecar, cuspir sobre o corpo das mulheres;  o direito a axfisia-las, apaliza-las, corta-las… Eles tenhem direito como consumidores a eleger, elas a ser elegidas para sobreviver.

O pago por um bebe nascido dum ventre de aluguer acada na Ucránia 40.000 €. Nesse país nascem entre 2.000 e 2.500 bebes ao ano, em 33 clínicas privadas, que polo tanto facturam 100 milhons de euros anuais. Esta industria em expansom florece também na ultracatólica Polonia, em Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, India, Nepal, México, Tailandia, Rusia, Grecia, Portugal, Sudáfrica  Georgia, Vietnam, Kazajistán,Tailandia e India. Esta-se introduzindo em Portugal, Bélgica, Dinamarca e Irlanda, onde estám levantando restrinçons. No estado espanhol está proibida pero as corporaçons que atuam noutros países podem publicitar-se, podes trazer um bebe nascido por contrato e registra-lo como próprio. Uns 1000 bebes ao ano registram-se no estado espanhol por este método.

Esta industria extrativa funciona do mesmo jeito que a industria do sexo, mas nom está a precisar de redes de tráfico nem de branqueio à escala do que a prostituiçom. O produto final tem aguardando unha parelha de semblante feliz que vê os seus desejos cumpridos, ainda que esses desejos o fossem a costa de direitos de mulheres empobrecidas, que internadas em espaços onde já nom som consideradas pessoas, senom, como na gandeiria intensiva, matéria prima onde assegurar um produto de qualidade, onde vigiar e ter controlo sobre a trazabilidade do produto, e baixo um contrato onde renunciam a direitos, incluindo o de filiaçom, o do controlo do próprio corpo, ou o da liberdade de movimentos, até o momento do parto.

Nom é difícil intuir a relaçom que existe entre sistemas como o prostitucional, industrias como a do aluguer de ventres, com a violência sexual que medra nas nossas sociedades. Nom é difícil intuir que a violência sexual nom vai desaparecer, mesmo seguirá a aumentar se a pornografia erotiza entre os moços e homens a violência contra as mulheres, chamando-lhe sexo, sexualidade. Podemos  ter umha venda diante dos olhos, mas seguiremos a ser testemunhas de que pese às medidas institucionais que conquistamos ou que vaiamos ampliando em relaçom à violência machista, se nom tocamos o sistema prostitucional, a pornografia e a industria que se apropria da nossa capacidade reprodutiva a costa dos nossos direitos, a violência contra as mulheres nom cessará, mesmo se acrescentará. Nom podemos aceitar os argumentos que se baseiam nas opçons individuais, na liberdade de eleger frente a fenómenos sociais que estam mechados por industrias do crime organizado, fundamentadas na desigualdade, na pobreza e na violência, Aí o consentimento, a livre eleiçom ficam fagocitados.

Nom quero que este argumentário fique reducionista. As causas de que a violência machista pese a todos os esforços e iniciativas nom esteja a desaparecer das nossas sociedades, também hai que busca-las, entre outras, na reacçom dos homens contra a perda de privilégios fronte à autodeterminaçom das mulheres ao conquistar e praticar os seus direitos. Mas insisto, hai que busca-la sobretudo,  naquelas instituiçons que as reproduzem, as alimentam e som o adestramento na violência ou na submissom, das geraçons mais novas.

Aí vam jogar para nós um papel importante, mais umha vez, as nossas mestras, as pensadoras, as investigadoras, as estudosas da nossa realidade. Estas companheiras feministas vam situar faros de conhecimento que vam iluminar aquelas instituiçons e realidades que estam a impedir os avances das mulheres, reproduzindo violência, explotaçom e opressom.  

Elas vam definir claramente a prostituiçom e a pornografia como duas instituiçons patriarcais onde se reproduze a violência machista, diretamente nos corpos das mulheres e nenas prostituídas, e violência simbólica para o resto de mulheres e nenas. Vam definir claramente o sistema prostitucional, onde a industria da explotaçom sexual desde a década dos noventa acadou dimensons nunca vistas, convertendo-se junto ao tráfico de armas e drogas, na atividade mais lucrativa da economia criminal. Um sistema onde os prostituidores, puteros, exercem violência sexual, física e psicológica contra as mulheres e nenas, e som invisíveis e impunes. Um sistema onde os proxenetas aplicam métodos criminosos para manter e ampliar as suas redes de negócio.

Vam sacar à luz os vínculos entre esta industria da explotaçom sexual, que se nutre fundamentalmente da trata de mulheres e nenas, e o capitalismo criminal, onde a prostituiçom e a pornografia vam ajudar aos processos de acumulaçom capitalista, como o foi no seu momento a escravitude, e mesmo se convertem em estratégias de países pobres para fazer frente ao problema da dívida, e onde grandes multinacionais que cotizam em bolsa tenhem ramas de negócio que obtenhem grandes benefícios através desta atividade criminal.

No feminismo temos suficientes estudos empíricos sobre a realidade do sistema prostitucional como para dizer que nom conhecemos, tanto as suas normas e o que o alimenta, como as consequências que derivam da sua existência para as mulheres e nenas. Na Galiza, na Universidade de A Corunha, temos um referente internacional, a profesora Rosa Cobo, ela à sua vez nos achega a estudos de Sheila Jeffreys, Melissa Farley, María José Barahona, Natasha Walter, Richard Poulin, ou a referentes europeus como Kajsa Ekis Ekman. Também existem estudos institucionais, como o realizado por Esther Torrado, da Universidade da Laguna para o Parlamento Canário, que demostra que o 100% das mulheres prostituídas forom vitimas de violência machista.

Aqui em Vigo sempre estiverom Maria Xosé Queizán, a Ana Miguez da Asociacion Alecrin e a Luisa Ocampo de Mulheres Nacionalistas Galegas. Umha lembrança especial merecem as já falecidas Begonha Caamanho e Rosa Bassave, e muitas outras ativistas que levam anos denunciando o sistema prostitucional. Novas ativistas e organizaçons estam tomando o relevo nesta cidade, como a associaçom Faraxa, ou a Rede Galega contra a Trata sexual, com a incansável Silvia Pérez Freire. Agora o ativismo abolicionista que está a criar redes cada vez mais extensas, reclama o ponto central que lhe corresponde na agenda feminista do século XXI.

Quero sinalar especialmente, o estudo da professora catedrática da Universidade de Salamanca Carmen Delgado, porque para mim aporta aspetos que eu desconhecia e nunca os tinha visto incorporados ao relato feminista da prostituiçom e a pornografia. Carmen Delgado comparte a importáncia dos fatores económicos como fatores que propiciam a entrada de mulheres e nenas no sistema prostitucional, também os vetores de racialidade e classe, e até aí nada novo. Ela incorpora os fatores psicosociais, que vam reforçar definitivamente a tese de que a pornografia e a prostituiçom som atividades onde se violenta às mulheres e às nenas para sacar beneficio.

Carmen afirma que a violência sexual é previa à captaçom para o sistema prostitucional. Entre o 85% e o 90% das mulheres e nenas prostituídas sofreram agressons sexuais, violaçom, pederastia... antes de se incorporar ao sistema prostitucional. Os dados e conclusons do seu estudo botam por terra os argumentos da livre eleiçom e do consentimento no sistema prostitucional. Ademais aporta o dato  de que o 89% estam buscando ativamente umha saída dessa situaçom. Mas o certo é que ademais da falta de expectativas, é tam grave o dano psicológico que se sofre, que muitas fracassam nesse intento, pola dificuldade para restabelecer vínculos fora do sistema prostitucional.

As feministas, ante esta evidencia empírica nom deveríamos aceitar a argumentaçom do regulamentarismo que ignora estas circunstancias. Ao regulamentarismo nom lhe interessam, pero está provado o dano psicológico grave que sofrem já antes, as mulheres que som captadas pola industria da explotaçom sexual. Segundo os estudos de Richard Poulin, a idade media de captaçom para o sistema prostitucional som os 14 anos, a livre eleiçom fica em falacia. E como denuncia a própria Silvia P. Freire, falar só da trata invisibiliça a realidade de violência sexual extrema que representa a prostituiçom.

Pero o estudo de Carmen Delgado, onde se nomeam outros estudos referenciais de Rosa Cobo, Sheila Jeffreys, Melissa Farley, María José Barahona,… afunda  também na situaçom de violência que vivem as mulheres e nenas dentro do sistema prostitucional. Um 92% sofrem acosso sexual, um 92% violência explicita, do 62 ao 72% violaçom, e um 25% intento de suicídio.

O caso de July, dominicana de 42 anos, que intentaba salvar a Mónica, rumana de 30 anos, que ao grito de “quero ser feliz” intentou e conseguiu tirar-se ao trem arrastrando com ela a July, em Cantabria, nom conseguiu o que consegui o de Ana Orantes, nom foi televisado. No prostíbulo no que eram explotadas sexualmente “Parada de postas”, os seus proxenetas e prostituidores ficarom anónimos. Agora é  Mila a que vai petando porta a porta no Carvalhinho pedindo ajuda, a dizer  que tem medo pola sua vida até aparecer assassinada no medio do lixo da vila. Os seus proxenetas foram condenados por tráfico de mulheres, o prostíbulo segue aberto.

Umha violência que supom, por exemplo entre outros danos psicológicos, que o 68% sofra transtorno de stress postraumático. Para que esta cifra seja ainda mais significativa Carmen Delgado sinala que no caso de ex-combatentes de guerra a cifra é só do 20%. A este trastorno se somam umha ristra mais que dam ideia do campo de concentraçom, tortura e exploraçom que é o sistema prostitucional, onde o varom prostituinte usa o corpo das mulheres e nenas para dominar, exercer o poder através do sexo. Carmen conclui que se pode identificar perfeitamente como Síndrome de Estocolmo, a situaçom psicológica provocada polo sistema prostitucional nas mulheres e nenas, onde para sobreviver desenvolvem  trastorno de disociaçom, um trastorno que deixa lesións psicolóxicas graves, que estám bem documentadas nas mulheres que sofrem violência machista nas relaçons de parelha, e que agora também o está nas mulheres e nenas vitimas do sistema prostitucional.

Pero ademais dos estudos e investigaçons,  que se incorporam ao relato feminista sobre a prostituiçom e a pornografia, o feminismo conta com a força das vozes das mulheres feministas sobreviventes ao sistema prostitucional. Companheiras feministas que com o seu relato pessoal de chegada e saída do inferno prostitucional, completam a legitimaçom do discurso abolicionista que vai tomar forma e fundo nestes últimos anos. Nunca poderemos agradecer suficientemente a mulheres como Amelia Tiganus ou Sonia Sánchez pola sua valentia, por abraçar com tanta lucidez a consciência feminista e representar-nos a todas nesse discurso liberador de “ningumha mulher, ningumha nena nasce para puta”.

Pois depois de todo este estudo sobre violência ao redor do sistema prostitucional, as dimensons da industria da explotaçom sexual no estado espanhol teriam que colocarmo-nos às feministas em estado de alarma permanente: de cada 100 homens, 40 som prostituidores; Espanha ocupa o número 3 em quando a demanda de prostituiçom a nível mundial, despois de Tailandia e Puerto Rico, e ocupa o número 1 a nível europeio. Máis de 30.000 milhons de euros anuais, entre 300.000 e 500.000 mulheres e nenas. Espanha é o burdel de Europa.
Denunciam desde o Observatorio contra a Violencia que desde que começou a guerra de Ucrania, a búsqueda de termos como "porno ucraniano", "adolescente ucraniana","chica ucraniana" dispararom-se em google e numha das webs pornográficas mais visitadas do mundo, Pornhub.

Estudos recentes, como a investigaçom titulada "Nova pornografía e cambios nas relacions interpersonais" publicada en 2019, amossam o impacto que tem a pornografia na construçom dos desejos sexuais. Se temos em conta que, como explica a experta Mónica Alario, as mensagens que transmite a pornografia aos varons que, por tanto, construem o desejo sexual masculino, som a erotizaçom da dor física das mulheres, da sua falta de desejo, sofrimento e humilhaçom, assí como dos abusos sexuais a menores e do consumo de prostituiçom, entom podemos concluir que a pornografia construi os desejos sexuais dos homens baseados na violência e o sofrimento das mulheres.

Considerando que a pornografia erotiza a violência sexual cara as mulheres, observar como num entorno de guerra (com consequências humanas e económicas devastadoras) aumenta o consumo de pornografía com búsquedas específicas em relaçom às mulheres que estam sofrendo os seus efeitos, é quando menos aterrador. Si a doutora alemá Ingeborg Kraus, especialista em trauma, denunciava no seu artigo que “O modelo alemám está criando um inferno na Terra”, seria o momento de ampliar o título “A industria criminal do sexo é o inferno na Terra para as mulheres e as nenas

Sabemos que alí onde se aplicaram políticas regulamentaristas da prostituiçom, a demanda nom recuou, a industria expandiu-se e a trata nom rematou, Holanda e Alemanha som exemplos disto. Sucede o contrário naqueles países onde se estam a aplicar políticas abolicionistas: Suecia, Islandia, Noruega, Canadá, Irlanda do Norte, Francia, República de Irlanda e Israel. É polo tanto inaprazável que as feministas consigamos umha lei pola aboliçom da prostituiçom e a pornografía. A Plataforma pola Abolición da Prostitución, que preside Charo Carracedo tem elaborada umha proposta de lei e está intentando que o governo, e os partidos políticos no Congreso dos Deputados a tenham em consideraçom, sem muito sucesso polo de agora.

Na Galiza ainda nom conseguimos que ningum partido político assuma como própria a necessidade dumha Lei Galega Abolicionista. Todas sabemos que se nom se pressiona na rua, é difícil conseguir avances de calado nas instituiçons. Se a leitura e interpretaçom da realidade por parte de todos estes estudos feministas mostram à pornografia e à prostituiçom como um verdadeiro gerador de violência contra as mulheres, deveremos desde o movimento feminista exigir políticas públicas que o desmantelem, e conseguir o status de vitima de violência machista para todas  as mulheres e nenas prostituídas.

Hai medidas concretas que se podem aplicar com carácter imediato, como impedir que a pornografia siga emitindo-se em aberto, que chegue via internet com tanta facilidade a menores desde os 8 anos, que seja a primeira escola em relaçons sexuais, polo tanto em inoculadora de misoginia e violência machista e criadora da erótica da violência contra as mulheres e nenas para conseguir prazer. Desde o feminismo devemos artelhar campanhas de conscienciaçom onde denunciemos a pornografia como fonte de violência e misoginia “o teu prazer nom pode construir-se a conta da violência contra as mulheres”.

Hai que conseguir que no código penal se penalize aos proxenetas e pornógrafos, e também a colaboraçom alugando pisos, locais, serviços de limpeza, abastecimento de bebidas, transporte… e todo o que signifique apoio a esta atividade económica criminal. O código penal deve considerar delito a demanda de prostituiçom, porque sem demanda nom hai negócio. O putero, o prostituinte que agora também sabemos que comparte características do perfil psicológico do violador (masculinidade hostil, sensibilidade e fustraçom ante o rechaço das mulheres, consumo de pornografía, sexo impersoal, narcisismo, permissividade com as agressons sexuais, relaçons de parelha dominantes, falta de empatia sexual...) deve saber que aceder ao corpo das mulheres por preço estará penado por lei, e polo tanto vai ser perseguido.

As mulheres e nenas em situaçom de prostituiçom devem poder acolher-se a planos integrais de recuperaçom integral, com atençom psicosocial e apoio económico para sair dessa situaçom de violência.

O feminismo tem que apagar a luz vermelha nos prostíbulos. Também nas esquinas dos polígonos industriais, nos pisos dos proxenetas, nas canles como OnlyFans, ou negócios como Sugar Dady. Tem que apagar a luz vermelha que todo o oculta, o sensualiza, e abrir as janelas para deixar entrar a luz que ilumine o dia a dia das mulheres e nenas prostituídas.

Ao feminismo se lhe ameaça dizindo-lhe que se nom pom por diante a luita contra o racismo, a denuncia do capitalismo, a luita pola vivenda, os direitos das pessoas trans, o ecologismo, o pacifismo… e todas as luitas e colectivos discriminados ou oprimidos que existem, todas elas loitas justas, vai-se converter num feminismo burgués, inútil, tipo “Hilari Clintom” ou como dim nos círculos de apoio à Ministra de Igualdade, um feminismo de “Kamala Harris” (por certo, a primeira mulher que ocupou por uns dias a presidencia de EEUU).

Ao feminismo nom se lhe permite ser o movimento que defende por riba de todo, os direitos da metade da humanidade, das mulheres. Ao feminismo se lhe di que tem a obriga de cargar com a mochila da merenda e a roupa suja de outras luitas. Pola contra, desde o feminismo temos o dever de antes de assumir como próprias estas luitas, com as suas reivindicaçons, ver de que jeito estas afetam às mulheres e polo tanto as que devem cambiar para nom bater com os nossos direitos, para que nom afortalezam o sistema que nos oprime, o patriarcado.

Precisamos logo um forte posicionamento do movimento feminista a favor do abolicionismo, olhando para Francia, Islandia ou Suecia onde leis abolicionistas estam freando às mafias e destruindo o sistema prostitucional.

Precisamos logo um forte posicionamento do movimento feminista em contra da industria dos ventres de aluguer, para que nom se avance na permissividade dessa prática, se persiga a propaganda das clínicas e se proíba às parelhas contratantes, o registro de bebes nascidos baixo contrato.

No programa 8 de Las Claves, da televisom espanhola, perguntavam num minidebate se sería possível rematar com a prostituiçom. As regulamentaristas alí presentes diziam que nom, que sempre existiria. As abolicionistas contestamos “pudemos abolir a escravitude, poderemos abolir a prostituiçom, e fecharemos as granjas de mulheres gestantes, a nova escravitude das mulheres e as nenas, a escravitude do século XXI

Vigo, 17 de Março 2022

VÍDEOS:

Vídeo da Charla - O  feminismo tem que apagar a luz vermelha, ... Por Lupe Ces - (Charla) 1 de 2. - "A mercantilización da mulher". (33 minutos)

Vídeo do Debate  - O feminismo tem que apagar a luz vermelha, ... Por Lupe Ces - (Debate) 2 de 2. - "A mercantilización da mulher". (55 minutos)

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domingo, setembro 12, 2021

Liquar o sexo (II): menores


LIQUAR O SEXO (II) : MENORES.

Rematou o tempo de alegaçons à "Lei Trans" em pleno agosto sem que se desse o necessário debate social sobre umha lei que entendemos, polo menos as feministas, que supom passos atrás em matéria de igualdade e um fortalecimento dos estereótipos de género, fortemente induzidos sobre todo na infáncia e adolescência.

Profissionais da saúde que levam acumulando experiência por anos de serviço, estudo e dedicaçom a atender às pessoas transexuais, debatiam sobre qual é o melhor enfoque para tratar a chamada até agora "disforia de género", e que passará no ano 2022 a chamar-se "discordáncia de género" dentro do novo CIE-11 (OMS) para diagnóstico e monitoreo de problemas de saúde. A Lei Montero, sem recavar a sua opiniom e assessoramento, aposta decididamente pola intervençom afirmativa, que nom tem em conta antecedentes, causas ou razons que precedem ou acompanham a apariçom da disforia de género, limitando o papel das profissionais da saúde a acompanhamento na hormonaçom e cirurgias.

A Lei impom este enfoque ademais, desprezando as evidencias científicas que asseguram que o 80% das disforias de género que aparecem na infáncia e na adolescência desaparecem com a idade adulta, impedindo a profissionais dar a atençom adequada a cada caso, pois com a aprovaçom da lei só se lhes vai permitir assegurar a transiçom (hormonas e cirurgia) nom questiona-la. Razom polo que cada vez mais vozes asseguram que esta lei nom vai de resolver os problemas das pessoas trans, senom que os vai negar, favorecendo que entre a infáncia e adolescência se reafirme o sofrimento e a confusom.

Na Galiza, desde a associaçom Arela (Famílias de Infáncias Trans) com o apoio de instituçons como a Deputaçom da Corunha, achega-se aos centros escolares materiais divulgativos que nom questionam os estereótipos de género, senom que os amplificam. No caderno dirigido à educaçom primaria realizam a seguinte pergunta: "Crês que é justo para as mulheres e pessoas trans que se lhe obrigue de qualquer maneira que modifiquem o seu corpo para encaixar nos estereótipos de género?" Pois a Lei que tanto aplaudem vai fechar todas as portas, salvo a da luita constante contra o próprio corpo. Mas em todo caso "encaixar" nos estereótipos de género nom semelha ser soluçom, e sim problema para as mulheres e nenas que os sofrem como opressom.

Estes materiais didáticos, mostram entre outras, como exemplo de vidas trans a Avery Jackson, que com 9 anos apareceu na portada do National Geografic. Umha criança nascida neno que junto à sua família assegurava ser nena, cores rosa e vestidos de princesa incluídos, porque em palavras da própria família "queria vestir de nena". Pouca liberdade, depois dessa exposiçom pública, se lhe deixa à criança para incluir-se nesse 80% que supera a disforia com a entrada na idade adulta.

Em EEUU, o transgenerismo logrou que haja na actualidade umha lista de 30.000 nenas aguardando por umha extirpaçom dos peitos (mastectomía), vidas postas ante um espinhento caminho interminável (menopausa na mocidade, atrofia vaginal, entre outros efeitos irreversíveis ou secundários por  tomar testosterona; histerectomia (extirpaçom do útero) e ooforectomia (extirpaçom dos ovários). O debate é internacional, e hai avanços e retrocessos. O feminismo começa a poucos a reagir a nível mundial contra a ofensiva Queer. Austrália, com leis trans em vigor, vem de meter baixo vigiláncia judicial umha clínica da identidade de género onde se receitavam bloqueadores da puberdade, hormonaçom e cirurgias em menores. Escócia, Suécia, Inglaterra... vam-se somando à lista de países que aprovarom leis de identidade de género e que estám dando passos atrás ao ver os efeitos das mesmas, sobre todo nas adolescentes. Aqui umha opiniom pública sobre-passada com a intensidade dos problemas aumentados no médio dumha pandemia, olha de esguelho este tema e assume acriticamente a mensagem de que se trata dum avanço em direitos, a maioria dos partidos de esquerda incluídos.

O transgenerismo, claramente liderado por homens que transicionarom, agora mimetizado em transfeminismo, é um fenómeno mundial que afeita maioritariamente às nenas e mulheres, que vem nel, um caminho aberto para fugir dos mandatos de género que resultam em opressom para elas. Som o 70% , mas som o 70% silenciado. Só este feito, esta super-representaçom das moças na disforia de género devera ser suficiente para concluir que se trata dum produto das sociedades patriarcais. O 70% que a lei vai deixar nas mans do enfoque afirmativo, sem opçons a ser tratadas por especialistas que estudem o seu caso, que para umha maioria vai resultar dum lesbianismo nom admitido, como nom podia ser doutro jeito nas sociedades profundamente homófobas que ainda habitamos. Mas hai outras  (autismo, abuso sexual, comorbilidade derivada de doenças mentais nom tratadas...). As nenas e adolescentes som botadas no cesto das hormonaçons e cirurgias irreversíveis, para alcançar o inalcanzável, o cambio de sexo.

Quando a coeducaçom ainda está em cueiros no nosso sistema educativo, o transgenerismo queer vai irromper com todo o peso da lei coa ideia de que só o sexo sentido e nom o biológico é o registável; a ideia de que ser mulher é um sentimento; a ideia de que os géneros, como construçom baseada em estereótipos é sobre o que as crianças devem construir a sua identidade e legitimar a manipulaçom e amputaçom dos corpos para adequa-los ao desejo, próprio ou induzido. A lei vem acompanhada dum importante bloco punitivo para quem questione estes dogmas de fé, no mundo da educaçom, da saúde ou na família.

A direita, que mostrou oposiçom à lei do divorcio e a do aborto; que se mobilizou contra a Lei de Igualdade, que fala de denúncias falsas e nega a violência machista, fomenta como o transgenerismo, os géneros. A diferenciaçom por sexos nos uniformes escolares, a segregaçom por sexos nos seus colégios de elite mais integristas, o papel das mulheres e nenas na religiom... tenhem a mesma base acientífica e patriarcal que a afirmaçom de que se um neno joga com bonecas ou a Frozen ou Barbie na PS4, ou a Girl's Fashion Shoot na Nintendo, é umha nena; e se umha nena gosta do futebol ou nega-se a pôr umha saia é um neno. Ao apartar o apoio psicoterapéutico à adolescência com disforia, abre-se a porta da captaçom da mocidade polas organizaçons religiosas que "por médio da fe" ajudaram a assumir o próprio corpo e de passo, as doutrinas associadas à salvaçom, incluindo os mandatos de género moi claros em todas as religions.

A situaçom em Afganistam, as inacabáveis vítimas lançadas à fossa comum do feminicídio ou as redes de prostituiçom de nenas na Galiza venhem de dar umha labazada de realidade e colocar a agenda feminista na urgência de todas nós. E o trangenerismo choca frontalmente com ela. O género nom pode seguir a construir a nossa identidade, levamos vários séculos pelejando contra estes estereótipos, seguiremos luitando contra eles, nom contra os nossos corpos, nem para oculta-los nem para mutila-los. O género hai que aboli-lo.

25 de agosto de 2021
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quinta-feira, julho 15, 2021

Cuba é umha democracia popular, nós temos umha performans de democracia


Que Cuba é umha ditadura? pois eu dígo-lhe que nom. As democracias devem classificar-se pola participaçom que os povos tenhem nas decisons políticas e económicas. O povo cubano elege a representantes políticos e controla com estruturas de participaçom a quem o representa. O povo cubano vem de ter um processo de reforma constitucional no 2018, invejável polos debates e participaçom conseguidos, tanto na elaboraçom como na votaçom que aprovou a reforma.. O povo cubano celebra referenduns para decidir cousas relevantes, como será o próximo para aprovaçom do Código de Família, onde se recolherá o matrimonio homosexual. A economía em Cuba está profundamente mediatizada polo bloqueio, ainda assim, a transparência e as decissons sobre a planificaçom económica som participadas e tomadas nom nos despachos das grandes multinacionais, senom nas estruturas políticas que o povo cubano se dotou, começando polo propio governo.

Nós vivemos numha democracia que nom pode eleger quem ocupa a Jefatura do estado; votamos cada catro anos num jogo eleitoral onde hai partidos que jogam com as cartas marcadas porque representam grandes interesses económicos; direitos fundamentais como o da vivenda, o trabalho, a auga ou a energía estám controlados por grandes grupos económicos que impedem aplicar políticas públicas que freen a súa vulneraçom. Cada ano, a cada día, temos que estar organizándo-nos ou peleando para nom perder direitos na sáude ou no ensino polas ameaças da privatizaçom, que já é umha realidade na atençom á dependência. Mas nom desejo que ninguém venha de fora a nos dizer como temos que cambiar as cousas, que forma política adoptar, que alianças estabelecer... Ah! sim que venhem a no-lo dizer, a no-lo imponher... OTAN de entrada nom, artigo 135 da Constituiçom...

Conclussom: Cuba é umha democracia popular, nós temos umha performans de democracia. Aqui víve-se melhor? Pois sim, seguramente umha parte importante da povoaçom tem um nivel de vida superior à media cubana, mas nom podemos esquecer que o nosso nivel de benestar é em muita parte consequência do malestar provocado polas potencias ocidentais noutros paises, bem em forma de guerras, espolio, golpes de estado para imponher governos favorábeis... A declaraçom dos DDHH sería pois o límite a aplicar a todos os países e estados, aí a funçom desejável que corresponderia á ONU, onde por certo, em 2019, 187 países solicitaram o fim do bloqueio, com 5 votos em contra: EEUU, Brasil, Colombia, Ucrania e Israel, como conhecemos ejemplo de diaria vulneraçom dos DDHH.

Os medios de comunicaçom monstram acriticamente as mobilizaçons de exilados cubanos em Miami com os seus lemas anticomunistas e nem um só pedindo o fim do bloqueio. Maldigo o bloqueio, maldigo a que impediu a Cuba mercar respiradores nesta pandemia!
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sábado, julho 10, 2021

Licuar o sexo (I)


Ante umha lei que propom cámbios tam fundamentais como é o borrador da chamada Lei Queer ou Lei Trans, na súa elaboraçom deveram ter participado umha ampla representaçom social, escoitado e debatido o suficiente antes de iniciar o trámite parlamentar, que vai estar moi mediatizado polo frágil equilíbrio de forças que sustentam o governo de Sánchez.

Porque este borrador que pretende chegar a ser Lei, nom atinge como se fai crer, só às pessoas transexuais, ou às pessoas transgénero, é umha lei que pretende que o sexo biológico perda todo valor jurídico, estatístico, que deixe de ser factor de variáveis de investigaçom ou tratamentos científicos e médicos, e base sobre a que se construiram todas as leis que blindam direitos e protecçom às mulheres.... para converte-lo num desejo, algo como experiência individual vivida, e que só a vontade pode determinar.

A proposta tem umha repercusom suficientemente importante para que a separemos quando menos do discurso fácil, mas desejável como objetivo, de "que cada quem seja o que queira" ou do discurso trampulheiro que assegura que a lei Queer vem blindar DDHH de este ou daquel coletivo. Da pouca vontade para o debate dam fé o numeroso articulado de infracçons e sançons, e organismos especificamente criados para fazê-la cumprir.

Cambiar o sexo biológico nom é um direito humano, além de ser impossível, mas cambia-lo no registro civil sim é possível, desde o ano 2007, para todas as pessoas que documentam disfória de género mantida ao longo de dous anos. Poder fazê-lo deste jeito blindava o direito das pessoas transexuais a acompanhar umha vivencia de disfória ou incongruência de género, com as maiores garantias e apoio, mentres se protegía a categoria “sexo biológico”, nom o "sentido", pola utilidade social que isto supóm, como o é a idade por ejemplo.

Se este cambio tem um interesse, em quanto à sua repercussom no conjunto social, na vida das mulheres as consequências som imensas e todas negativas. O sexo biológico é a base da opressom que em todo o planeta sofrem mulheres e nenas, porque o sexo mulher, trae de série umha hierarquia, umha serie de roles, estereótipos, valores, convencionalismos, crenças..., que vam marcar o que se aguarda delas e o lugar que a sociedade lles reserva, um lugar subordinado no melhor dos casos, um lugar onde habitam a violência, a explotaçom sexual e reprodutiva para a maioria. A essa mochila que se carga ao nascer mulher, é à que o feminismo chama "género" e ao que esta lei quer outorgar estatus de identidade.

O feminismo leva dous séculos intentando desfazer-se dessa mochila. Dizendo algo tam singelo como que um mundo habitável para as mulheres será aquel no que o sexo biológico nom traia aparelhado desigualdade. Por isso esta lei inspirada na ideia de que ser mulher é um sentimento, contradíz a analise feminista e nos reduz a simples vontades expressadas sobre estereótipos.

O que di o feminismo que se opóm valentemente a este borrador, porque já se nos deu envolta num discurso vitimista e carregado com poucos argumentos e muita emotividade, devera ser escoitado e tido moi em conta, nom porque ao dia seguinte da sua aplicaçom haja milheiros de varóns fazendo cola para cambiar o sexo registral (ainda que nos Jogos de Japón já algumhas mulheres desportistas caiam do pódio, por nomear algúm dos efeitos mais imediatos deste tipo de leis vigentes nalguns estados), senom porque abre a porta a umha sucessom de consequências em cadeia, que outros países estam constatando, e nos debuxam um modelo social onde, a opressom das mulheres fica obscurecida que nom eliminada, e o corpo, passa a ser mais que nunca território do mercado.
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quarta-feira, abril 21, 2021

Na balança, menores ou velhice?


A estas alturas ninguém nos pode ocultar que detrás da migraçom existem máfias e governos que a utilizam para premer, chantagear ou quitar estabilidade a zonas geo-estratégicas, tombar governos ou negociar com vantagem. O caso da fronteira mexicana é paradigmático. Ninguém, salvo que queira caminhar de olhos vendados, pode deixar de ver no êxodo migrante, unha historia de conquista e saqueio dos países de origem, por parte dos países recetores. Assumindo isto com toda a carga de profundidade que implica, da necessidade mesma de cambiar o sistema mundo, no aqui e agora cumpre pôr unha olhada urgente sobre as vítimas, e sobre essa moeda de cambio e chantagem que som os menores migrantes.

Nestes case dous anos de pandemia, como sucedeu ao longo da historia em momentos de crise, e esta é unha crise mundial, assistimos a um confronto sobre o modelo de sociedade. O debate público/privado, os direitos coletivos e individuais, a liberdade, e mesmo o valor da vida humana, envolvem este debate. Unha confrontaçom de ideias que nom está facilitada pola informaçom-lixo, ou as mentiras que se divulgam num fogo cruzado, onde saem exabruptos como a campanha onde se contrapom o gasto que supom o acolhimento dum menor migrante e o gasto dumha mulher de idade. Unha imagem tramposa que pretende que elejamos entre a vida e o bem-estar dum familiar e a vida dum menor. Sem dar-nos a oportunidade de sermos unha sociedade, com suficientes recursos para valorar a vida de todas e todos, para sermos unha sociedade de acolhimento e coidados.

Esta semana assistimos com horror na cidade de A Coruña à detençom dum grupo de pessoas acusadas da compra-venda dumha nena de 12 anos. As novas sobre violência contra menores, ou as cifras do aumento dum 30% de casos de menores tutelados pola Xunta durante a pandemia, estam indicando o rueiro por onde unha parte da sociedade, quere que transite o futuro de menores vindos ao mundo nunha situaçom de vulnerabilidade. Volvemos a partir, unha e outra vez, num grande Titanic onde nom hai suficientes barcos salva-vidas, na vez de construir barcos onde a velhice segura e a infância com direitos esteja garantida.

Artigo publicado em AGAMME
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terça-feira, março 09, 2021

364 dias

 


NENO (12 anos): E nom hai mulheres que matam a homens?

FEMINISTA (assombrada): Claro, hai mulheres que podem matar um homem num acidente de tráfico, ou pode mata-lo num assalto, ou envenena-lo para ficar com herdança... Mas nom é disso do que falamos

NENO (12 anos): Mas quantas mulheres matam homens?

FEMINISTA (assombrada) Dígo-che que a violência machista é quando um homem assassina ou simplesmente agride a umha mulher porque pensa que lhe pertence ou porque quer somete-la.

NENO (12 anos): Busca, busca em internet e di-me o número...

FEMINISTA (assombrada) Digo-che este número para que entendas... Mira, mais de 54.000 homens estam no cárcere, e só 4.000 mulheres. Aos homens se lhes educa para serem violentos, e às mulheres para o cuidado e ser submissas.

NENO (12 anos): (Depois de olhar uns segundos a gráfica por sexos da populaçom reclusa) Vou-che ensinar um vídeo dum cantante que está moi bem a ver se gostas...

domingo, dezembro 20, 2020

O governo do gas


 Quase ao mesmo tempo que o gaseiro Maran Gas Efessos, procedente de Malabo (Guinea Ecuatorial), atracava no peirao de Reganosa no concelho de Mugardos, Emilio Bruquetas, o seu diretor, comparecia ante a “Comisión non permanente especial de estudo sobre a reactivación económica, social e cultural de Galicia pola crise da covid-19”. Umha regasificadora que está funcionando sem licencias, depois de 5 sentenças do Tribunal Supremo [1] na sua contra.

Quase ao mesmo tempo que o seu diretor realizava umha prédica ambientalista nessa comissom [2], a favor das energias renováveis, das energias verdes, nas que incluem, intencionadamente, ao metano, o gaseiro iniciava umhas manobras de entrada na Ria de Ferrol ponhendo em perigo a vida de milhares de pessoas que vivemos na sua contorna, pondo proa cara umha regasificadora, que lhe aportou o passado exercício uns benefícios de 16 milhons de euros ao Grupo Tojeiro [3].

Quase ao mesmo tempo que Reganosa, para o processo de regasificaçom, esteriliza com hipoclorito sódico mais de 32,8 milhos (2019) de toneladas de água da ria e a expulsa refrigerada, diminuindo a sua temperatura sobre uns 4,6 ºC, no Parlamento Europeio e nos despachos da Comissom Europeia, os grupos gasistas estavam livrando umha dura batalha para conseguir nom ficar fora dos fundos de desenvolvimento regional (FEDER) ou dos do Mecanismo de Recuperaçom e Resiliência (RFF). [4] Porque o metano, principal componente do GNL, combustível fóssil, é responsável do 25% do aquecimento do planeta, e mais letal para o clima que o próprio CO₂ . [5]

A confusom, a desinformaçom, e a falta de peso político de organizaçons que tenhem como prioridade na agenda a loita contra o cámbio climático, fai que a oportunidade de reformulaçom do modelo energético, que nos deu coma um agasalho compensatório a crise do Covid-19, vaia ser aproveitada polos lobys gasistas para beneficiar-se da torta de milhons de euros que se vam repartir para a recuperaçom económica na UE.

O Comité de expertos que vem acompanhando a Nuñez Feijoo desde o inicio da pandémia, do que forma parte o director de Reganosa, foi elaborando projetos nessa linha, e está moi pendente das decisons que se tomem em Europa. Projetos da velha guarda das multinacionais que operam na Galiza, Citroën, Inditex e Reganosa, ou o que é o mesmo, automoçom, modelo têxtil deslocalizado e gas. [6] No caso de Reganosa, onde a Xunta, junto ao Grupo Tojeiro, controla o 85% da regasificadora e através das empresas de serviços e investimentos conforman unha multinacional, que mantém negócios em Malta, Alemania, Italia, Kuwait, Brasil, Chile, Canadá, Ghana e Mozambique, tendo na actualidade só umhas 125 pessoas en plantilha, começa a conhecer-se algúns traços desses proxectos que volvem apontar ao interior da Ría de Ferrol. [7]

Investimentos milhonários que nada tenhem a ver com a potenciaçom dos nossos recursos naturais, a defensa dos nossos sectores produtivos tradicionais e do nosso médio ambiente, linhas básicas que devera seguir qualquer política de “reconstruçom” post-covid na Galiza. Mesmo contabilizando a potencia em criaçom de emprego, dos distintos modelos energéticos, a aposta polo gas é a menos rendível. [8]

A Uniom Europeia estabelece seis objetivos ambientais e aclara que umha atividade pode considerar-se ambientalmente sostível, se contribui a qualquer de esses objetivos sem danar significativamente a nengum dos outros:

1. Atenuar o cámbio climático (evitar / reduzir as emissons de gases de efeito invernadoiro ou aumentar a eliminaçom de gases de efeito invernadoiro).

2. Adaptaçom ao cámbio climático (reduzir ou previr o impacto adverso no clima atual ou futuro agardado, ou os riscos de dito impacto adverso).

3. Uso sostível e proteçom da água e os recursos marinhos.

4. Transiçom a umha economia circular (centrando-se na reutilizaçom e reciclagem de recursos)

5. Prevençom e controlo da contaminaçom.

6. Proteçom e restauraçom da biodiversidade e dos ecosistemas.

O principio de “nom prejudicar” assegura que umha atividade económica que causa mais dano ao médio ambiente que benefícios, nom se pode classificar como sostível. As atividades ambientalmente sostíveis também devem respeitar os direitos humanos e laborais. A Comisom Europeia está desenvolvendo critérios técnicos para cada objetivo, que deberam estar listos a finais de 2020, para a mitigaçom e adaptaçom ao cambio climático, e finais de 2021 para o resto de objetivos.

Qualquer projeto que inclua o metano, ou a tecnologia biocida que Reganosa utiliza para a regasificaçom, tam destrutiva da biodiversidade e dos postos de trabalho na nossa ria, ou o seu funcionamento que pom em perigo a vida das pessoas, nom cumpre com os requisitos de sustentabilidade marcados pola UE, e polo tanto nom seriam merecedores dos fundos destinados à recuperaçom post-covid. Mas quem está acostumado a viver por acima da lei, gozando de impunidade, pode pensar que desta também se livrará, seja com projeto de carga de combustível para buques (HUB) [9], seja para a produçom de hidrogeno [10] utilizando eletricidade a partir do gas [11] ou pensando na fabricaçom de “metano sintético” [12].

O Ministerio de Transición Ecológica concede agora a Declaración de Impacto Ambiental a Reganosa (DIA) -paso previo para darlle autorización e legalizala- . De momento aos colectivos alegantes, 19 associaçons e 244 vizinhas e vizinhos da contorna da Ría, que alegamos, non nos comunicaron nada, nin respostonderam às alegaçons feitas en setembro do 2019.

Coma a George Floyd, intentam que deixemos de respirar, umha e outra vez colocam a sua bota na nossa cabeça, mas o projeto Reganosa segue supurando corrupçom, ilegalidade, e perigo para o médio ambiente e para milhares de vidas.


Notas.-

[1] Comité Cidadán de Emerxencia para a Ría de Ferrol. | 12/08/2020 - Ártabra 21 | Acceder ao Doc.

[2] O diretor de Reganosa demanda apoio público a empresas na transiçom ecológica. 09/11/2020 - Diario de Ferrol | Ir á Web .

[3] Gadisa avanza con tranquilidade, bons alimentos e récord de benefícios antes da covid-19. 20/08/2020 - El Correo Gallego. | Ir á Web .

[4] A aposta energética polo hidrogeno reabre a guerra de gasodutos na UE. 14/10/2020 - La Información. | Ir á Web .

[5] e [8] Por que o diñeiro europeo da recuperación non pode financiar o gas. De Samuel Martín-Sosa, Javier Andaluz Prieto e Nuria Blázquez. 29/10/2020 - Ártabra 21 | Ir á Web .

[6] A automoçom galega busca mobilizar 1.300 milhos dos fundos europeus. 10/11/2020 - Diario de Ferrol | Ir á Web .

[7] Nova planta de Reganosa pode producir hidrógeno verde em A Coruña apoiada por Estado e Xunta. 07/10/2020 - GaliciaEspress | Ir á Web

[9] Feijoo, sobre o HUB de GNL de Reganosa: “é unha oportunidade que nom podemos desaproveitar". 23/10/2017 - Web de Reganosa. | Ir á Web .

[10] A Associaçom Empresarial Eólica alerta contra o hidrogeno azul e o grise. 05/10/2020 - Energía Renovables | Ir á Web .

[11] Ciclos Combinados: rentabilizar o soporte á transición ecológica (Página 38 da revista GasActual Nº 156) - Xullo/Setembro 2020. | Acceder/Baixar .

[12] O gas natural, acelerador da transición energética (Página 42 da revista GasActual Nº 156) - Xullo/Setembro 2020. | Acceder/Baixar .

domingo, março 01, 2020

Cambiar o traço


Poderíamos traçar umha linha da pobreza, em ascendente, desde o centro da cidade até os bairros mais periféricos. Poderíamos traçar umha linha da tristeza perpendicular às soidades que habitam a cidade, para recolher todos os planos, cada um dos ángulos. Pensar a cidade desde a pobreza, desde a tristeza, desde a soidade, desde a incerteza…, para construir espaços de coidados, dignidade, seguridade, acompanhamento, solidariedade…

Os caminhos das mulheres. Mulheres cargando compras, carrinhos com crianças. Mulheres fazendo os caminhos à escola, ao trabalho de madrugada. Mulheres sem caminho, nas casas coidando, ou soas. Mulheres transitando esquinas apagadas, túneles escurecidos de curvas inquietantes. A cidade excluínte, ameaçante.

A linha da pobreza cara as casas de humidades eternas, janelas pequenas por onde se filtra o vento e os reumas, o sal das paredes a sugar água e fungos derramados em todas as estáncias. Impossível que a beleza do pano na mesa, oculte os teitos descascados. Ascensores oscilantes e falsos que às vezes faltam à cita. Andares elevados onde ficam prisioneiras as vidas limitadas..

Farolas apagadas ou rotas, bancos arrincados e papeleiras esgazadas que incidem no desalento. Contentores impossíveis, com tapas impossíveis, com barras impossíveis que deixam o lixo ao capricho das gaivotas ou das ratas. O vento acumulando, afetado de diógenes, resíduos plásticos nas coordenadas dumha escada esbaradiza.

Chuvia paralisante. Nom há onde ir, difícil encontrar-se. As crianças rebotando nas esquinas das casas, passarinhos atrapados. Sair só ao mandado, para sobreviver, deixando o viver aparcado. Amanhar com o mínimo, até que dê escampado. A ver se a febre passa e a roupa dá secado.

A vida em soidade. A radio sem bateria e o televisor moi alto, moi alto, que nom se escuita claro. Na mesa só um prato, e as tardes vam caindo junto às noites, como as folhas num outono dilatado. Sair às escadas, precipício de aventuras arriscadas, pensando na descida e pensando na chegada, calculando gramo a gramo, o que se pode cargar até casa. Tam longe o imenso espaço de hipermercado em secçons organizado, tam extenso o caminho a recorrer para ter o necessário!

A morte em soidade. A traiçom dumha caída, a dor, a fame, a sede. As horas eternas aguardando, mentres as imagens da vida vam passando, alegrando e amargando. A loucura de ver-se no final tam esquecida. Aguardar ao cheiro filtrado baixo a porta, para que venham recolher os restos dumha vida. A cidade em celas dividida.

Quem construi de costas ao que somos? A cidade nos possui e nos ordena. Quem nom nos pensa? Quem pom barreiras no caminho? Quem nom traça caminhos seguros para andares diferentes? Quem separa a vida da eficácia e a destreza? Quem impom, bêbedo de benefícios, que a cidade nos seja alhea?

Suster a vida, como tarefa colectiva. Compartida. Para traçar novos planos e reabilitar a cidade para a vida. Eis a olhada feminista cambiando o traço na gestom do espaço.

Artigo publicado em Crítica Urbana.

Revista de Estudios Urbanos y Territoriales Vol.3 núm. 11 Mujeres y ciudad.

A Coruña: Crítica Urbana, marzo 2020.

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