sábado, janeiro 17, 2009

Palestina no cotidiano


Estes dias, a enfermidade visitou a minha casa e a muitas pessoas queridas. Som dias onde a companhia, as chamadas de alento e os cuidados som como o ar que respiramos. A cinco minutos da casa todo um sistema de saúde pública funcionando para nós, sem perguntar quanto dinheiro temos no banco, sem presentar nomina nem póliza de companhia aseguradora. Só hai que preocupar-se de escuitar a respiraçom da pessoa enferma, saber ler nos seus olhos se hai melhoria e alegrar-se quando assim é. Na cozinha nos esmeramos por preparar alimentos com mais cuidado, que sentem bem, que transmitam a necessidade que temos de que permaneçam na vida com nós o maior tempo possível e compartilhar muitos momentos felizes.

Mas a enfermidade nom véu soa, junto a ela entrou na minha casa todo o horror que se ia acumulando em Gaza. Intentar sentir por um momento toda a dor reflectida nesses olhos fazia-se insuportável, e as palavras agarravam-se no peito negando-se a subir até a boca, ao saber-se impotentes para explicar tanta desgraza. Cada objecto nas mans convertia-se num milagre, um analgésico, umha toalha limpa, um cueiro, um café quente...Cada parte da casa mostrava-se como refugio e como ameaça, um sofá onde sentar-se, as bilhas coa auga quente, a cama recém mudada...

E para curar a nossa impotência começamos a sair à rua, a encender velas, a cantar consignas, a escrever Palestina, a escuitar na rádio, na TV e ler nos jornais as vozes amigas, que conseguiam sacar do peito as palavras que nós nom arrancávamos, e leva-las à boca, à tinta das imprensas, às ondas. E amanhá domingo 18 de Janeiro, iremos à velha cidade de Compostela para seguir curando a nossa impotência e purgar a nossa culpa, por ter umha casa em pé, pola auga quente, pola luz que fai mais curtas estas noites de inverno debaixo de lenços limpos. E na manifestaçom berraremos contra o estado de Israel..., mas todo o ódio acumulado detrás da ferida sangrante, do corpo sem vida, da cama murchada entre os cascalhos, das mesas baleiras... vai seguir sinalando com dedo acusador a nossa cumplicidade, as nossas prioridades e o nosso jeito de ver o mundo.
___________