sábado, janeiro 30, 2016

Na encruzilhada

Ninguém nega já que o feminismo logra estar presente na agenda política, e vai ficar por muito tempo. Na passada campanha a maioria das formaçons políticas esforçaram-se por apresentar uns programas onde a violência machista, a concialiaçom da vida familiar e laboral, os serviços de cuidados e a dependência, tiveram um lugar destacado, ainda sabendo que muitas dessas promessas ficariam em muitos casos, no caixom dos distintos ministérios, se ninguém se lembrava de reclamar a sua execuçom em políticas reais.

Mas o feminismo é teimado e aparece e reaparece na palestra pública, seja para restar votos ao partido Ciudadanos, quando questiona a existência da violência machista, ou para protagonizar a abertura do Congresso da mam da imagem de Carolina Bescansa aleitando ao seu bebe. Todo um acontecimento mediático que desatou um massivo debate social sobre a conciliaçom, hoje por hoje, quase impossível de acadar para a maioria, entre vida laboral e familiar.

Numhas novas coordenadas mundiais, onde a geopolítica volve substituir o que foram tímidos começos de relaçons internacionais baseadas na cooperaçom, o poder hegemónico descobre no feminismo umha fonte de argumentário moi útil para justificar, paradoxalmente!, políticas reaccionárias e de fundo carácter patriarcal. O último exemplo teria-mo-lo nas agressons sexuais sofridas por centos de mulheres na Alemanha, justificando as políticas contra os direitos humanos das pessoas refugiadas da guerra, aprovadas ao dia seguinte polo governo deste país.

O feminismo na Europa, semelha estar na encruzilhada na que sempre se lhe situou no passado século em tempos pre-bélicos. Dum lado, apresenta-se-lhe umha política europeia, austericida, virada claramente à actividade bélica em muitas regions de África e Oriente Médio; umha política de portas fechadas à imigraçom ou à acolhida de pessoas refugiadas; umha política de recortes de direitos e liberdades e de domínio absoluto dos poderes financeiros e das grandes corporaçons económicas, onde as mulheres vem agrilhoadas as suas condiçons de vida e obstaculizado o seu caminho cara à igualdade. Por outra banda, a ameaça do aumento da patriarcalizaçom da sociedade, co avance da influência de regimes e movimentos políticos e armados, que instauram nos territórios que dominam a plena submissom das mulheres e nenas. Os atentados em cham europeio por parte destas organizaçons cumpririam um duplo objectivo de instaurar o medo e dobregar resistências a políticas de recortes de liberdades a prol da “seguridade”. Mentres, o regime turco, amigo e colaborador da Europa da Troika, assassina feministas curdas que como muitas outras pessoas de bem, levam resistindo nos seus territórios, as políticas de expansom e exploraçom dos recursos, e regimes e organizaçons de integrismos vários.

Para sair com bem desta encruzilhada, as feministas europeias estam chamadas a realizar duas tarefas primordiais. Por umha banda criar redes de apoio, aumentando a sua influencia entre os movimentos sociais e partidos políticos que loitam por transformar a contorna europeia, e por outra parte afinar o seu discurso para minimizar as gretas por onde os inimigos das mulheres podam inferir danos irreparáveis. Ambas as duas tarefas som necessariamente complementares.

Em quanto a esta segunda tarefa, as feministas europeias devem concretizar mais o seu discurso sobre a interculturalidade, que afronte sem tabus os problemas associados à imigraçom ou às pessoas refugiadas em território europeio. Hai experiências que se devem dar a conhecer para valorar no seu alcance e objectivos, caso da iniciativa de Alternativas à Violência em Noruega.

No estado espanhol, as feministas, depois de ter livrado umha dura batalha contra o recorte do direito ao aborto, tenhem colocado a violência machista no primeiro lugar das suas prioridades: o feminicídio é umha realidade que irrompe nos noticiários um dia sim e outro também. A Contrarreforma constituída polas forças políticas reaccionárias e neoconservadoras, as instituçons das distintas religions com presença no estado e umha parte moi activa e beligerante do poder judicial, levam um tempo aplicando com bastante éxito um contra-discurso baseado na existência de denúncias falsas ou da manipulaçom das instituçons e das leis por parte do lobby feminista.

A inclusom dos nomes de varons vitimas de violência machista; a realizaçom de experiências educativas que demostram avanços quantificáveis em igualdade em povoaçons moi novas; a colaboraçom estreita entre universidade e movimento, ou a asignaçom de recursos para programas de igualdade desde as instituçons governadas polas forças transformadoras, e muitas mais iniciativas, podem conseguir ampliar a hegemonia que o feminismo está a ter na sociedade, nom sem problemas, nom sem vitimas, que o som, nom o esqueçamos, por exercer o direito a decidir, exercer a liberdade. Construir essa sociedade compactada ao redor dos valores feministas, é a maior garantia de fortaleza contra da ameaça da oligarquia financeira e belicosa, e dos integrismos.

Caranza, Janeiro 2016
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